15/01/2011

"O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (2º Dom)

João foi testemunha da manifestação de Deus por ocasião do Baptismo de Jesus. Agora, ele confirma que viu o Espírito Santo descer do Céu e repousar sobre Jesus. E revela que este facto permitiu-lhe reconhecê-lo como o enviado de Deus - Aquele que baptizará no Espírito Santo. Além disso, João também confirma que ouviu a voz do Pai: “eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus”. Tendo visto o Espírito Santo e ouvido Deus, João descobriu e acreditou na verdadeira identidade de Jesus e, por sua vez, manifesta-a aos seus ouvintes, com a força do testemunho.
João vai mais longe na revelação de Jesus ao apresentá-lo como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Especifica que a missão do Filho de Deus é libertar o homem do pecado.
A imagem do cordeiro, com que João se refere a Jesus, inspira-se no cordeiro pascal dos judeus. Segundo o livro do Êxodo, antes da saída do Egipto e como preparação da mesma, Deus ordenou aos israelitas que imolassem um cordeiro e com o seu sangue pintassem as portas das suas respectivas casas, para que o Anjo Exterminador, ao passar pela terra do Egipto, poupasse os primogénitos dos judeus Deste modo, o cordeiro, que, ainda hoje, faz parte da ementa da ceia pascal judaica, simboliza a salvação e a libertação do povo, graças à intervenção de Deus. O cordeiro morre, mas o seu sangue serve de sinal para ao Anjo, e assim, graças a ele, salvam-se muitas pessoas.
Jesus é Aquele que morre, derramando o seu sangue na cruz, para salvar todos os homens. Com a doação da sua vida, Ele redime e liberta o homem do pecado, que é a fonte e a causa de toda a forma de escravidão. Nessa medida, Ele é o verdadeiro Cordeiro pascal, ou seja, Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Na verdade, o pecado oprime o homem e faz dele o opressor do seu semelhante. O homem, quando recusa dar a Deus o primeiro lugar na sua vida, ou seja, na medida em que não aceita depender de Deus, vê tudo e todos em função de si mesmo: da sua ambição e ganância, das suas paixões e conveniências, dos seus interesses e gostos pessoais.
  • Assim, o homem procura o poder, passando por cima dos direitos dos outros, e exerce-o sobrepondo-se e impondo-se a eles;
  • procura a riqueza sem justiça e usa-a sem qualquer sentido de partilha;
  • procura o prazer sem quaisquer limites, usando e tratando as pessoas como coisas;
  • considera que as suas “verdades” valem mais do que as verdades dos outros e que só tem direitos e não tem deveres.

Este modo de se entender e de entender os outros não só perturba gravemente as relações interpessoais como gera formas terríveis de opressão no seio da sociedade.
Pela oferta da sua vida, acto supremo do amor de Deus pelos homens, Jesus tira o pecado do mundo, vence o pecado do homem. No entanto, esta libertação só acontece efectivamente na vida de cada homem na medida em que este acredita em Jesus, recebe o sacramento do baptismo e vive realmente segundo a verdade e o amor de Deus. Com efeito, só a verdade revelada por Jesus, indissociável do amor de Deus que Ele mesmo testemunhou, torna o homem verdadeiramente livre: “a verdade vos tornará livres” (Jo 8,32).
Jesus quer “tirar o nosso pecado, vencer o nosso egoísmo, devolver-nos a nossa dignidade e tornar-nos plenamente livres", para que Deus e os homens possam ocupar o lugar que merecem no nosso coração. Ele quer também tirar o pecado do mundo, ou seja, erradicar todas as formas de opressão que sobrevivem e se propagam na sociedade contemporânea e que tão negativamente afectam a vida dos homens:

  • a ditadura do relativismo, tão defendida e generalizada nos nossos tempos, que põe em causa valores e direitos fundamentais da pessoa, como a vida, o casamento e a família;
  • a ditadura do poder económico que, todos os dias, cria mais pobres e faz aumentar a miséria no mundo;
  • a ditadura do laicismo negativo dos Estados que, em nome de uma falsa liberdade, não respeita a liberdade religiosa dos cidadãos;
  • a ditadura da indiferença religiosa que condena os homens à mediocridade de uma vida sem sentido e sem esperança.

Jesus quer e pode tirar o pecado do mundo, mas não o faz sem o nosso consentimento e a nossa colaboração. O homem não pode ser livre e salvar-se sem Jesus, mas Jesus não o pode salvar e fazer livre à força!

Pe. Martins in Jornal "A Guarda"

Sem comentários: